segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Obama se escreve com O, Hilary!!!

Oprah Winfrey entrou ontem com tudo na batalha das eleições presidenciais. Esse é um dos assuntos mais quentes do dia por aqui. A mulher mais poderosa da TV americana uniu-se ao candidato democrata Barack Obama na sua briga por votos na Carolina do Sul e na sua meta de tornar-se o primeiro presidente negro dos Estados Unidos. É a primeira vez que Oprah apóia um candidato publicamente.

Única bilionária negra a constar na lista da revista Forbes nos últimos três anos, ela é considerada uma das personalidades mais influentes dos EUA. De origem humilde, ela é hoje um modelo para milhares de mulheres americanas, especialmente as negras. Ao unir-se a Obama na sua campanha pela presidência, ela pode angariar preciosos votos na Carolina do Sul, já que a comunidade negra da região responde por nada menos que metade dos eleitores dos democratas nas eleições primárias.

Detalhe: as últimas pesquisas mostraram que Hilary Clinton está hoje à frente de Obama nas intenções de voto da região: 45% contra 31%.

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Merda branca

E, por falar em neve, acho que a ocasião pede: aí vai um clássico da internet, o e-mail Merda Branca. Sempre o achei hilário, mas depois que vim morar na Pennsylvania, ele ficou ainda mais engraçado - por enquanto, já que o meu cérebro ainda não congelou com o frio de rachar. Veja só o que espera quem mora por essas bandas de cá:

"Pennsylvania - Isto é que é vida

Agosto 12: Hoje me mudei para minha nova casa no estado da Pennsylvania. Que paz! Tudo aqui é tão bonito. As montanhas são tão majestosas. Quase que não posso esperar para vê-las cobertas de neve. Que bom haver deixado para trás o calor, a umidade, o tráfego, a violência, as enchentes, a poluição e aqueles brasileiros mal-educados de São Paulo. Isto sim que é vida!

Outubro 14: Pennsylvania é o lugar mais bonito que já vi em minha vida. As folhas passaram por todos os tons de cor entre o vermelho e o laranja. Que bom ter as quatro estações. Saímos a passear pelos bosques e pela primeira vez vi um cervo. São tão ágeis, tão elegantes, é um dos animais mais vistosos que jamais vi. Isto deve ser o paraíso. Espero que neve logo. Isto sim é que é vida!

Novembro 11: Logo começará a temporada de caça aos cervos. Não posso imaginar como alguém pode matar uma dessas criaturas de Deus. Já chegou o inverno. Espero que neve logo. Isto sim é que é vida!

Dezembro 2: Ontem à noite nevou. Despertei e encontrei tudo coberto de uma camada branca. Parece um cartão postal... uma foto. Saí a tirar a neve dos degraus e a passar a pá na entrada. Rolei nela e logo tive uma batalha de bolas de neve com os vizinhos (eu ganhei) e quando a niveladora de neve passou, tive que voltar a passar a pá. Que bonita a neve. Parecem bolas de algodão espalhadas por todos os lados. Que lugar tão bonito! Pennsylvania sim é que é vida!

Dezembro 12: Ontem à noite voltou a nevar. Que encanto. A niveladora voltou a sujar a entrada, mas bom... que vamos fazer, de todas maneiras. Isto sim é que é vida!

Dezembro 19: Ontem à noite nevou outra vez. Não pude limpar a entrada por completo porque antes que acabasse, já havia passado a niveladora, assim hoje não pude ir ao trabalho. Estou um pouco cansado de passar a pá nessa neve. Droga de niveladora! Mas, que vida!

Dezembro 22: Ontem à noite voltou a cair neve... Tenho as mãos cheias de calos por causa da pá. Creio que a niveladora me vigia desde a esquina e espera que eu acabe de tirar a neve com a pá para passar. Vá pra puta que pariu!

Dezembro 25: Feliz Natal branco, mas branco de verdade, porque está cheio de merda branca. Viado! Se pego o filho da puta que dirige esta niveladora, te juro que o mato. Não entendo porque não usam mais sal nas ruas para que se derreta mais rápido este gelo de merda.

Dezembro 27: Ontem à noite ainda caiu mais dessa merda branca. Já são três dias direto que não saio. Nada mais faço senão passar a pá na neve depois que passa a bosta da niveladora. Não posso ir a lugar algum. O carro está enterrado debaixo de uma montanha de merda branca. O noticiário disse que esta noite vai cair umas 10 polegadas a mais de neve. Não posso acreditar!

Dezembro 28: O idiota do noticiário se equivocou outra vez. Não foram 10 polegadas de neve... caíram 34 polegadas mais dessa merda! Vai tomar no cu! Seguindo assim, a neve não se derreterá nem no verão. Agora resulta que a niveladora quebrou perto daqui e o filho da puta do motorista veio me pedir uma pá. Que descarado ! Disse-lhe que já tinha quebrado 6 pás limpando a merda que ele me havia deixado diariamente. Assim, quebrei a pá na cabeça daquele imbecil. Que bosta. Que saco, Que caralho!

Janeiro 4: Ao fim hoje pude sair de casa. Fui buscar comida e um cervo de merda se meteu diante do carro e o atropelei. Caralho! O conserto do carro vai me sair uns três mil dólares. Estes animais de merda deviam ser envenenados. Oxalá os caçadores tivessem acabado com eles o ano passado. A temporada de caça deveria durar o ano inteiro.

Março 15: Escorreguei no gelo que ainda há nesta puta cidade e quebrei uma perna. Ontem à noite sonhei estar sob uma palmeira.

Maio 3: Quando me tiraram o gesso, levei o carro ao mecânico. Ele disse que o assoalho estava todo enferrujado por baixo por culpa do sal de merda que jogaram na ruas. Será que esses cornos não têm outra forma de derreter o gelo?

Maio 10: Mudei-me outra vez para São Paulo. Isto sim que é vida! Que delicia! Calor, umidade, tráfego, violência, enchente, poluição e falta de educação. A verdade é que qualquer um que imagine morar nessa Pennsylvania de merda tão solitária e fria é um retardado... ou viado, ou deve estar louco! Isto sim é que é vida!!!"

P.S.: Ainda estou vivendo em lua-de-mel com a cidade e o frio, no equivalente ao dia 2 de dezembro do e-mail... Vamos ver até quando essa história de amor vai durar...

White Thanksgiving, Black Friday

Dizem por aqui que a primeira neve coincide com o Dia de Ação de Graças. E, sem fugir à tradição, tivemos ontem o primeiro grande dia com neve. Fomos à casa de um amigo comemorar o Thanksgiving - com direito ao pacote completo: peru, purê de batatas, "farofa americana" e torta de abóbora - e ,quando nos preparávamos para sair, vimos o teto dos carros coberto por uma fina camada de neve... Bacana.

Hoje de manhã, dei uma espiada do lado de fora da janela e lá estava ela: mais neve! A temperatura chegou hoje a -3 celsius. Dizem que em Pittsburgh faz tanto frio que dá para enfrentar dias com - 20 celsius. Aliás, santa invenção, o aquecedor! Graças ao bom Deus pela alma caridosa que o criou (porque já está frio para diabo para essa carioca aqui!!!). Amém!!!

E, depois de um White Thanksgiving, nada como uma Black Friday. É assim que chamam o dia seguinte ao feriado de Ação de Graças, quando as lojas fazem uma mega queima de estoque, após ficarem fechadas na véspera. Coisa de profissional: é a maior liquidação do ano, superando mesmo a que vem depois do Natal. Tudo com até 70% de desconto. As portas de algumas das grandes redes - tipo Macy's, JC Penney, Sears - abriram às 3 da matina de hoje!! Isso mesmo, você entendeu direito: às três, quatro da manhã, já tinha loja funcionando. E o povo não perde por nada essa ode ao consumo. O noticiário local mostrou que tinha gente que havia acampado do lado de fora do Wal-Mart às três da tarde do Dia de Ação de Graças!!!! Tudo para não perder as ofertas.

O negócio é sério. As estimativas são de que os americanos gastem a bagatela de $ 44 bilhões apenas hoje. Para se ter uma idéia, isso representa 3,5% do Produto Interno Bruto (PIB - conjunto das riquezas do país) estimado para 2007, de R$ 2,538 trilhões.

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Clichês

Rio e Pittsburgh, por incrível que pareça, tem muito em comum. Primeiro: são cidades cuja beleza natural salta aos olhos. Parques, árvores, flores e montanhas estão por todo lugar que a vista alcança. Segundo: ambas são reféns de seus próprios clichês.

No Rio, são as bundas de Ipanema, as mulatas, a terra do sexo fácil e do futebol. E cadê a economia fluminense, minha gente?!?! Cadê a sede da Vale do Rio Doce e da Petrobras, duas das maiores companhias verde-e-amarelas?!?!

Em Pittsburgh, é a indústria do aço e a imagem de poluição e dias cinzentos. Essa, no entanto, é uma realidade distante a anos luz da atual. A cidade vive hoje da alta tecnologia (como robótica), da indústria de saúde (aqui estão alguns dos melhores hospitais dos EUA) e da educação (a cidade é sede de grandes universidades, que são algumas das maiores empregadoras da região). Aqui está a sede de sete das 500 maiores empresas americanas - o que coloca Pittsburgh como a sexta maior do país em concentração de grandes corporações.

Mas, é difícil superar os clichês a primeira vista. Por isso, essas são também terras de contrastes, em que os clichês batem de frente com a realidade de fato. E essa, só conhece quem tem a chance de viver o dia-a-dia dessas duas cidades.

A tale of two cities. Ou, em bom português, uma brasileira em Pittsburgh!

No século XIX, Charles Dickens escreveu A tale of two cities (Um conto de duas cidades, em português). O cenário é a Revolução Francesa e a trama, que divide-se entre Londres e Paris, tem um pouco de tudo: culpa, corrupção, retribuição, morte e ressurreição – temas que aparecem em outros livros de Dickens.

Impossível não lembrar do livro agora, ao embarcar de cabeça na aventura de viver dois anos no exterior. Muito mal comparando, me sinto assim, num conto de duas cidades. No caso, Rio e Pittsburgh. A primeira, a cidade onde nasci e cresci. A segunda, onde passarei os próximos dois anos…

Do Rio, trago lembranças de uma infância feliz, mescladas com uma combalida esperança de que, algum dia, as coisas mudem e a cidade volte a ser um lugar seguro para se morar e se criar os filhos, onde haja vontade política de virar o jogo. Para Pittsburgh, trago a esperança de dias melhores, mais tranqüilos, mas também de muita expectativa.

E, nesse momento de mudança, impossível não recordar o início memorável da trama de Dickens:

“Aquele foi o melhor dos tempos, foi o pior dos tempos; aquela foi a idade da sabedoria, foi a idade da insensatez, foi a época da crença, foi a época da descrença, foi a estação da Luz, a estação das Trevas, a primavera da esperança, o inverno do desespero; tínhamos tudo diante de nós, tínhamos nada diante de nós, íamos todos direto para o Paraíso, marchávamos todos na direção oposta”.

É assim que me sinto: entre a esperança (de que as coisas mudem no Brasil, de que os anos nos EUA sejam felizes) e o desespero (pela distância da família e dos amigos e pelo caminho que as coisas tomaram no Rio).

Que vença o primeiro!