terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Temporada de caça 3



Depois dos cervos, os gansos foram a bola da vez em Pittsburgh. Numa caça com hora marcada - foram seis horas monitoradas por policiais - 20 atiradores partiram com tudo para cima de 80 gansos num parque do condado de Beaver, aqui perto.

Estava lendo, em matéria do Pittsburgh Post-Gazette (http://post-gazette.com/pg/08358/936989-57.stm), que as autoridades classificaram a caça como ética pois os atiradores deveriam esperar que os gansos deixasse o lago e voassem para só então atirar. Ok.

A temporada de caça aos gansos foi motivada pelas fezes dos animais, encontradas em playgrounds, áreas de pesca e abrigos, o que pode ter contribuído um surto de E. Coli. A bactéria está por trás de doenças como infecção alimentar ou urinária, apendicite e meningite.

Muita gente na região tem reclamado da caça aos gansos como solução para o problema. Entre as alternativas sugeridas estão destruir os ovos dos animais ou deixar a grama crescer em volta dos lagos (onde eles ficam a maior parte do tempo), tornando o ambiente menos propício à proliferação dos gansos.

A caça voltará a acontecer amanhã, dia 31 e nos dias 2 e 3 de janeiro.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

É grave a crise: apertem os cintos, o auxílio-desemprego sumiu!


Quando a gente pensa que a crise econômica já levou sociedades e mercados ao fundo do poço, lá vem a danada mostrar a que veio. E provar que não está de brincadeira.

As demissões em massa estão levando o Fundo de Compensação por Desemprego (UC Fund) - que dá ajuda financeira a quem foi demitido, garantindo, assim, o pagamento de hipotecas, do aluguel e mesmo do carrinho de supermercado nosso de cada dia - a direcionar recursos num ritmo mais rápido do que o esperado em boa parte do país.

Apenas aqui na Pennsylvania foram gastos quase $ 3 bilhões este ano. Com isso, o orçamento para o ano que vem ficou limitado a $ 1 bilhão. Segundo o Departamento de Trabalho e Indústria da região, a quantia é suficiente para bancar os benefícios por um período que vai de quatro a, no máximo, seis meses. Quer dizer, pode ser que, já em abril, a torneira tenha secado, deixando a população a ver navios.

Resumo da ópera: com as demissões em alta, o fundo, criado em 1935 com o objetivo de ajudar a estabilizar a economia em períodos de recessão, corre o risco de quebrar não apenas aqui, mas em outros 29 estados americanos que estão em situação semelhante - entre eles, nosso vizinho, Ohio. Hoje, 4.4 milhões recebem esse tipo de auxílio-desemprego.

Os recursos do fundo vêm do pagamento de taxas e impostos por empregados e empregadores. A questão agora é: será que, numa economia já combalida, será que o aperto de cinto do UC Fund pode resultar num aumento de impostos?

Vale lembrar que o número de trabalhadores pedindo auxílio-desemprego atingiu, na semana passada, o maior nível em 26 anos: avançou 58 mil, para 573 mil.

Ah, antes que me esqueça: a foto acima é de uma fila de desempregados, como você deve ter adivinhado. O papel rosa que eles empunham é uma alusão ao pink slip, o aviso de demissão cor-de-rosa que o trabahador recebe junto com seu contra-cheque quando ele perde o emprego aqui nos EUA.

Em terra de árabe, quem dá sapatada é rei


Enquanto isso, em Bagdá, milhares de pessoas foram às ruas pedir a libertação do repórter que tentou dar duas sapatadas no Bush. Ele está sendo tratado como herói nacional. Tem gente aqui dizendo que até demorou para alguém brincar de tiro ao alvo com o Bush...

Papai Noel gostosão


Coisas estranhas acontecem aqui nos Estados Unidos no Natal. Acabei de ver na TV que um shopping em Los Angeles - onde mais? - resolveu inovar e repaginou o bom e velho Papai Noel. No lugar do bom velhinho, os clientes encontram o Hunky Santa (algo como Papai Noel Gostosão).

Todas as sextas, sábados e domingos, o Papai Noel Gostosão e as Candy Cane Girls (candy canes são aqueles doces em forma de bengalinhas brancas e vermelhas que são super tradicionais nessa época do ano) se apresentam, cantando e dançando pelo shopping de Beverly Hills, para alegria das mamães siliconadas e botocadas. Vi na TV que tem fila para mãe sentar no colo do Papai Noel Gostosão, pode?!

Durante a semana, no entanto, o bom e roliço velhinho bate ponto, para não decepcionar os bons meninos e meninas.

Dei uma fuçada no You Tube e acabei achando esse vídeo do Hunky Santa em ação:
http://www.youtube.com/watch?v=oBQnR3vUPi0

domingo, 14 de dezembro de 2008

Gatos 2

Nora já tem até sequência no You Tube.
Estou apaixonada.



Diz a dona que ela não ensinou a gata a tocar, que ela é quem sempre gostou de brincar no piano. Será?

Como todo gênio, é incompreendida. Vi na TV - pois é, Nora agora aparece em rede nacional - que a dona dela tem outros tantos gatos em casa, mas eles não se dão com a Nora e ainda a hostilizam, coitada.

Gatos

Quem tem gatos sabe como é fácil a gente se apaixonar pelos bichanos e também como a inteligência e os truques deles sempre nos surpreendem. Mas essa eu nunca tinha visto: gato tocando piano. Com vocês, Nora.

Espaguete!

Como carioca que sou, pode parecer esquisito, mas adoro o inverno, o friozinho e a neve nessa época do ano. É uma mudança bem-vinda após o festival de cores do outono e deixa a gente com uma expectativa deliciosa em relação à primavera e às milhares de tulipas que vão pipocar pelos jardins da cidade daqui a quatro meses.

Mas, também adoro essa época porque é quando a gente começa a achar uma maravilha chamada Spaguetti Squash no supermercado. O squash é um parente da abóbora que você encontra por aqui no outono e no inverno. Mas, o Spaguetti Squash é um tipo interessante porque, ao contrário do squash tradicional, depois de assado (é possível cozinhar também no microondas, numa vasilha com água) desfia em tirinhas bem finas, lembrando um espaguete, daí o nome.

É sensacional, a textura é fantástica (tem um certo crunch, crunch, como dizem), o gosto é maravilhoso - caindo para o adocicado, então a gente tem que corrigir um pouco com sal e pimenta - e, o melhor: quase não é calórico (80 calorias por squash, mais ou menos) e é facílimo de fazer. A Anna sempre foi fã de squash tradicional e agora somos todos viciados em Spaguetti Squash, que não falta nunca na nossa geladeira.

Ah, já ia esquecendo: além de bom e bonito, o squash é barato - coisa de $ 3. Ou seja, prato perfeito para tempos de crise como o atual.

Aqui em casa a gente trata o Spaguetti Squash como espaguete mesmo e, em geral, o servimos com carne moída, um squash à bolonhesa - reinventando à perfeição (mas com muito menos calorias) o prato preferido da infância.

Se você quiser arriscar, funciona assim:

1. Parta o squash ao meio com uma faca de churrasco. A casca é bastante dura e pode ser que você tenha que tentar duas ou três vezes antes de conseguir cortá-lo


2. Tire todas as sementes e também a parte mais escura do interior do squash - me disseram que se não retirarmos, fica azedo. Preferi não arriscar. Coloque então o squash numa travessa e leve ao forno por mais ou menos 45 minutos, a uma temperatura de 350 graus



3. Retire o squash do forno e, usando um garfo, comece a retirar o miolo. A quantidade deve ser suficiente para encher a travessa. Tempere com sal e pimenta.



4. Se desejar, refogue o squash com cebola e alho. Uma alternativa é usar um bom molho de tomate, desses que já vêm com cebola e ervas. Eu, normalmente, tempero apenas com sal e pimenta, já que a carne moída já é bem temperada.

5. Acrescente carne moída e voilá! Aí está seu Spaguetti Squash.

Temporada de caça 2

No jornal da semana passada veio o seguinte encarte, de uma loja ce artigos esportivos.



Me chamou a atenção a parte de baixo do anúncio. Dê só uma olhada na sugestão de um clássico presente de Natal:



Em tempos de crise financeira, sei não... Presente de grego esse...

Temporada de caça

Tenho que admitir: ainda me choca o fato de as pessoas poderem comprar e ter armas de fogo em casa aqui nos EUA. Esse é um direito de todo cidadão americano, garantido pela segunda emenda à constituição do país, de 1791.

Na Pennsylvania, nem é preciso ter uma autorização do estado para comprar armas de cano curto ou longo. Também não é necessário fazer registro delas. Para mim, parece Terra de Marlboro, como a gente diz no Brasil. Mas, é coisa bem normal por aqui.


Para quem, como eu, já viu um cervo morto no porta-malas de um carro durante um engarrafamento, é difícil encarar tudo isso com naturalidade. Mais que tudo, me choca ainda o fato de termos uma temporada de caça aqui na Pennsylvania. Neste domingo, por exemplo, terminou o período de caça aos cervos, que durou duas semanas. Estima-se que 900 mil pessoas - entre elas, crianças a partir de 12 anos (como a menininha da foto abaixo) - tenham participado da chamada Buck Season. A Pennsylvania é a região que mais atrai caçadores de cervos no país. No ano passado, eles mataram 323.070 animais e, no ano anterior, 361.560. Tudo dentro da lei.

É preciso fazer um curso de dez horas sobre segurança no uso de armas para poder caçar. E também é necessário ser caçador registrado para participar da Buck Season. Muitos doam a carne dos animais para os Food Banks, que atendem à população pobre e outros pagam cerca de $ 70 para terem os cervos transformados em linguiças, filés, etc.

A caça é a resposta para o crescimento acelerado da população de cervos da região. Para alguns, eles são considerados inimigos número um da Pennsylvania. Não é raro nessa época a gente ver no noticiário local acidentes em que cervos fora de controle invadem as estradas, causando acidentes fatais.

Ok, eu entendo tudo isso. Mas há alternativas. Alguns estados, por exemplo, usam há mais de duas décadas um contraceptivo chamado PZP (Porcine Zona Pellucida) para controlar o número de cervos. Ja começaram a falar do assunto timidamente por aqui. Os cervos são identificados e recebem a vacina, que é eficaz por dois anos. Depois desse período, recebem uma nova dose, desta vez aplicada por uma daquelas armas que atiram dardos, o que pode ser feito a uma distância de quase 30 metros. É assim que fazem na África do Sul, com animais como elefantes, por exemplo.

Chinelo voador ou a sapatada no Bush

Quando eu era pequena, era uma peste. Não ficava quieta num canto, subia em cima dos móveis, aprontava mil e uma. Em resumo, era um capeta. Reza a lenda - e há dezenas de testemunhas para comprovar - que num desses dias em que eu estava pulando de móvel em móvel na casa de uns amigos da minha mãe, ela, mortificada e já sem saber o que fazer, me avisou:

"Se você não ficar quieta, o chinelo vai voar"

E eu, terrível, não ia engolir essa em seco:

"Mas chinelo não voa", argumentei.

Ato contínuo, o tal do chinelo veio num rasante em minha direção. Pegou de raspão na perna, mas foi o suficiente para me manter quieta o resto da noite. Eu sei, eu sei, psicologia infantil zero, né? Mas na década de 80, não sei se tinha muito disso. Hoje, aqui nos EUA, era capaz de dar cadeia: child abuse. A favor da minha mãe, tenho que dizer eu não me aguentaria como filha. Eu era impossível.

Você deve estar se perguntando a essa altura: mas qual é a da história do chinelo voador? Bem, não pude deixar de lembrar dela ao ler que um jornalista arremessou um par de sapatos na direção do presidente Bush durante uma coletiva em Bagdá.

Veja o vídeo aqui:



Antes de atirar o primeiro pé de sapato, o repórter gritou: "Esse é um beijo de adeus, cachorro". Segundo a Bloomberg, na cultura árabe, a sola do sapato é um tipo de insulto.

Bush conseguiu desviar dos dois sapatos e depois ainda tentou tranquilizar os outros repórteres:

"Eu estou bem. Isso não me importa. (...) Era um sapato tamanho 42"

Hein? Qual é a do sapato 42?
Impressionante como o tempo passa, o tempo voa e o Bush continua não fazendo o menor sentido.

O que me lembra, claro, do quadro Grandes Momentos nos Discurssos Presidenciais do programa do David Letterman. Aqui uma palhinha:



Alguns momentos imperdíveis, no entanto, escaparam. Achei boa parte aqui:

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Don Juan literário

Só dá ele. Nas últimas duas semanas, ficou difícil trocar de canal ou mesmo acessar a internet ouvir falar do livro How to talk to girls, do expert Alec Greven. Mas, qual é a graça em mais um manual de auto-ajuda? Bem, este foi escrito por um moleque de 8 anos! Isso mesmo, 8 anos. Um ano mais velho, o petiz de Colorado conta agora que o livro era parte de um projeto escolar e que o texto foi escrito com base na sua experiência observando as coleguinhas e sua interação com outros meninos no pátio do colégio. "Sou novo demais para meninas", ele tem dito.



O livro de 48 páginas, publicado pela HarperCollins em capa dura, já está à venda na Amazon.com por $ 9.99: http://www.amazon.com/How-Talk-Girls-Alec-Greven/dp/0061709999/ref=pd_bbs_sr_1?ie=UTF8&s=books&qid=1228851699&sr=8-1
Para Alec, o céu parece ser o limite. O livro está prestes a ganhar uma edição australiana em fevereiro e teve os direitos de adaptação comprados pela Fox Filmes. Ah, e ele já prepara mais três livros: Como falar com mães, Como falar com pais e Como falar com o Papai Noel. Fofo, né não?
Ah, sabe o adiantamento que ele recebeu da editora pela publicação? Ele doou parte do dinheiro para uma organização que levanta fundos para pesquisas sobre câncer. Bacana.

Quer saber os conselhos do guru-mirim?
"Às vezes, você consegue que uma menina goste de você, mas aí ela te dá um pé. Bem, a vida é mesmo dura então, toque a vida"
"Não ache que garotas são nojentas. São só meninas, o que pode haver de errado com elas?"
E ele tem até pesquisas validando seu trabalho: "Cerca de 73% (vem cá, o que são cerca de 73%? 72,5%? 70%?) das meninas comuns dão um pé nos meninos; 98% das meninas bonitas dão um pé nos meninos"
"O que quer que aconteça, não pareça desesperado. Garotas não gostam de garotos desesperados"

Veja aqui a última entrevista do petiz na Ellen DeGeneres(onde ele já é habituée), no início do mês:



Foi depois de aparecer num programa da Ellen que ele conseguiu uma editora para publicar seu livro. A entrevista original está aqui



E se você acha que a história dele estar em toda parte, em milhões de canais, é exagero, olhe só por onde ele tem andado nos últimos meses:
CBS - http://www.youtube.com/watch?v=M3uGvXpjwk4
MSNBC - http://www.youtube.com/watch?v=-JI-LBkGBaI
CNN - http://www.youtube.com/watch?v=jRInsGsxdzY
NewYorkPost.com - http://www.youtube.com/watch?v=BsBzMj9WI9s
Borders.com (essa é hilária; ele dá os conselhos todo sério) - http://www.youtube.com/watch?v=yzouzhXSRzY

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Outono

O outono passou voando, com suas cores arrebatadoras e dias num misto de calor e frio. Para quem viveu toda a vida no Rio, onde a gente só conhece verão e variações sobre o mesmo tema, é uma delícia ver a mudança de estações acontecer diante dos seus olhos.
Dá para namorar a vista por horas a fio - isto é, até a pequena puxar a barra da minha saia, me trazendo de volta à realidade.

Aqui vão algumas das cenas que eu vi nas últimas semanas, antes que o inverno chegasse, junto com os primeiros dias de neve. Mal chegou, o outono já foi e deixou saudade no peito dessa carioca.

Na nossa passagem semanal por Mt. Lebanon, a caminho do baby gym da dona miudinha, a estrada ia ficando pontilhada de árvores vermelhas, amarelas e também de um verde esmaecido - todas lindas. Árvores como a que abre esse post.

Aqui do lado de casa, em Oakland, no Schenley Park, que abraça as universidades de Pittsburgh e Carnegie Mellon, as cores eram ainda mais lindas:



Essa foto foi tirada a caminho de um dos campos de golfe do Schenley Park. Adoro o contraste do asfalto com os diferentes tons das folhagens...

A boa filha à casa torna

Eu sei, eu sei. Lá se vão bem uns quatro meses desde a última vez em que dei as caras por aqui. Mas, com a hérnia perturbando de novo, as enxaquecas batendo ponto, uma viagem para o Brasil e um bebê que está a um passo (literalmente!) de começar a andar, tenho andado com as mãos ocupadas...

Uma eleição e uma crise financeira - ambas históricas - depois, estou de volta.

Espero ter mais tempo para alimentar o blog e contar as novidades por essas paragens.

Bem-vindos a bordo.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

NHS, o sistema de saúde inglês - parte II

Peguei um táxi e voltei para casa, já caindo de dor. Eu tinha coberto a pé umas quatro, cinco quadras, mas com dor, parecia que eu tinha participado de uma maratona. Não conseguindo mais ficar em pé, resolvi voltar à clínica só no dia seguinte.

Na minha segunda incursão, já com o contrato de aluguel atualizado como comprovante de residência, nova surpresa.

"Preciso de um atendimento de emergência. Não consigo ficar em pé ou sentada por mais de cinco minutos sem sentir uma dor imensa, que deixa a minha perna direita paralizada"

"Ah, a senhora terá que aguardar pelo menos três dias"

"Desculpe, não entendi"

"Hoje vou completar seu cadastro. Aí é preciso esperar pelo menos um dia para marcar a primeira consulta com o clínico-geral. Só depois e, se ele achar necessário, é que a senhora será encaminhada para um especialista"

Pausa dramática.

"Mas, como eu disse, estou com dores fortes que me impedem de caminhar ou sentar"

"Desculpe, esse é o procedimento"

Amaldiçoando Deus e o mundo, marquei a consulta com o clínico-geral e voltei para casa. A dor só piorava.

No dia seguinte, pela manhã, depois de muito perturbar a recepcionista, consegui que ela me colocasse na fila para atendimento de emergência, no fim da tarde. A dor era tão intensa que eu mal conseguia respirar - que dirá ficar em pé.

Quando a médica finalmente me atendeu, senti um alívio. Ela foi muito gentil, perguntou o que eu sentia e descrevi a dor na base da coluna. Disse que tudo começou com uma dormência no pé direito, então progrediu para uma dor latente na lateral da perna que depois se espalhou pela coluna.

Muito segura, ela mandou que eu ficasse em pé, levantasse a saia e me curvasse para a frente. Depois, que deitasse na maca e levantasse uma perna de cada vez. Ok. Tudo não demorou mais que três minutos. Eu mal consegui fazer o que ela pedia sem ajuda. A dor impedia que eu me curvasse ou me deitasse com facilidade.

Ela sentou então no computador, a tela no site da NHS. Muito calmamente, digitou "lower back pain". Abre-se então uma nova página. Para minha surpresa, a médica começa a ler um diagnóstico online de dor nas costas. Eu não sabia se ria de nervoso ou chorava.

O texto, lido com toda a calma do mundo, dizia que dor nas costas era uma doença comum, que ia e vinha e costumava melhorar com o tempo. A médica leu o texto na tela uns cinco minutos. Até a Anna começou a protestar, chorando horrores.

Ela leu até o disclaimer!!! "If your condition is non-urgent, you can expect to see a doctor within two working days or a health professional such as a nurse within one working day. If you don't need an appointment within two working days, you can also book in advance if this is more convenient for you. It is important to keep your appointment, or notify the surgery if you have to cancel or change it". Eu estava boquiaberta.

Resumo da ópera: a médica, que fez o diagnóstico pelo computador - coisa que um macaco não adestrado era capaz de fazer -, me disse para tocar vida normal, não mudar a minha rotina. Em alguns dias, a dor ia melhorar. Por via das dúvidas, me receitou um simples paracetamol.

Ah, claro, eu mal conseguia andar há semanas e a dor ia magicamente embora. Tá.

Fui embora irritada, caí no choro na rua. Não aguentava de dor. Como já era tarde, fui para casa.

No dia seguinte, paguei, feliz da vida, 350 libras por uma consulta numa clínica particular. O clínico geral, recomendado pelo chefe do meu marido, me atendeu na hora. Me pediu para sentar e me pediu que descrevesse meu problema. Repeti o discurso do dia anterior. Lá fomos nós para a maca. Levanta a perna daqui, levanta dali, curva do outro lado. Olhei o relógio. Dois minutos. Lá veio ele, taxativo: "Estou convencido de que é um caso de hérnia de disco. Vou recomendá-la a um neurologista, mas seu caso parece ser o de uma hérnia de disco clássica. Os sintomas são bem compatíveis".

Não sabia se chorava ou se ria. Agora, de felicidade. Finalmente meu problema tinha nome e sobrenome e, assim, um plano de ação. Que diferença para o NHS!

Mais 300 libras depois, o neurologista, que me atendeu de emergência, bateu o martelo: "É hérnia de disco". A ressonância magnética só ajudou a identificar onde, na minha coluna, estava a hérnia. O plano de ataque: remédio adequado (relaxante muscular mais anti-inflamatório), compressas quentes na base da coluna, fisioterapia três vezes por semana e acupuntura). Meu caso não é cirúrgico e, segundo os médicos, em dois meses eu devo voltar à vida normal.

O melhor de tudo: meu seguro de saúde americano vai bancar tudo.

Lição: quando a esmola é demais, o santo desconfia. Sistema público de saúde da Inglaterra, tô fora!!!

NHS, o sistema de saúde inglês - parte I

Para quem mora em Pittsburgh - eleita, em 2007, a melhor cidade para se viver nos EUA (http://www.post-gazette.com/pg/07116/781162-53.stm) e casa de um dos melhores hospitais americanos(http://www.upmc.com/Communications/MediaRelations/NewsReleaseArchives/2007/July/USNewsBestHospitals.htm) - é frustrante deparar-se com o sistema de saúde público da Inglaterra.

A proposta do NHS - National Health Service (http://www.nhs.uk/aboutnhs/Pages/About.aspx) - é garantir a todos o acesso a medicina de qualidade, desde o tratamento de uma simples gripe, passando por cirurgias e tratamentos de emergência. Mas, tudo isso é muito bonito no papel. Na prática, o buraco é bem mais embaixo.

Coloquei o sistema à prova no mês passado e não gostei nem um pouco do que eu vi. A princípio, parecia tudo muito simples. Você entra no site do NHS, se cadastra no sistema público de saúde e escolhe uma clínica na sua área. Basta digitar o CEP e o site localiza todas as clínicas a uma distância x da sua casa. Minha primeira impressão não poderia ser melhor. Em questão de minutos eu estava no sistema e de posse de uma lista de clínicas a escolher. Melhor: era possível ver o currículo de alguns médicos online, o que facilita bastante uma escolha assim, sem referências, às escuras. Escolhi uma clínica a 0.5 milhas aqui de casa, com médicos especializados em saúde da mulher, saúde do homem e também pediatras. Assim, todos aqui estavam cobertos.

Uma dor intermitente na perna que vinha me incomodando há semanas e tornando meus passeios londrinos cada vez mais difíceis parecia a oportunidade perfeita para ver como o NHS funcionava na prática. Mas, como boa brasileira, fui deixando para a última hora até que, já não aguentando mais de dor (que agora já chegava até a base da coluna) e mal conseguindo sentar ou ficar em pé por mais de cinco minutos, resolvi recorrer ao sistema público inglês. E aqui, tudo passa antes pelo clínico geral.

Anotei o endereço da clínica e lá fui. Chegando lá, passaporte e comprovante de residência na mão - just in case, precavida que sou - perguntei o que era preciso para o atendimento de emergência.

"Vc é registrada no NHS?", me perguntou a recepcionista, sem muita paciência.

"Sim, fiz o registro online", respondi, morrendo de dor e mal suportando ficar em pé.

"Online? Não serve. Você tem registro aqui?"

"Não. Posso fazer um agora?"

"Onde você mora?"

"SW7"

"Ah, não podemos atendê-la. Você tem que procurar uma clínica na sua àrea"

"Mas eu procurei no site do NHS e a busca me indicou essa clínica como uma das que atendia o meu CEP"

"Não, sinto muito. O site deve ter errado. Você não pode ser atendida aqui"

Quando a esmola é demais, o santo desconfia. Claro que a coisa toda não poderia ser tão simples e o site do NHS tinha que dar o endreço errado. Surreal.

Uma outra recepcionista, talvez sensibilizada pela minha expressão de dor, catou um papel e marcou com caneta quatro endereços. Eram clínicas que, segundo ela, cobriam o meu CEP e poderiam me atender. Agradeci e segui meu caminho, com a dor ficando cada vez mais forte.

Olhei no mapa e lá fui para a primeira clínica marcada. Balde de água fria. Eles só faziam planejamento familiar. Voltei à folhinha da recepcionista e resolvi tentar a segunda clínica. Foram 15 minutos andando - com a dor cada vez pior, subindo pelas costas - e nova negativa: "Não, não atendemos seu CEP". Dez minutos depois, nova clínica e, surpresa: não cobriam a minha área. Detalhe: o maldito papelzinho do NHS dizia que aquelas eram as clínicas que atendiam a minha região.

Com minha paciência cada vez menor, segui para a quarta clínica.

"Vocês atendem SW7?"

"Sim. Você tem registro?"

"Só no site"

"Identidade e comprovante de endereço, por favor"

Eu suava frio de dor ao entregar os documentos à recepcionista, mas tentava me consolar pensando que logo seria atendida.

"Não posso fazer seu registro"

"Por que?"

"Seu contrato de locação (meu comprovante de residência) venceu ontem"

Tínhamos assinado um contrato temporário - caso não gostássemos do apartamento, que foi alugado à distância - e depois o renovamos até agosto. O contrato nas mãos dela era esse primeiro. Expliquei a situação e perguntei se, como era uma emergência - eu agora mal conseguia ficar em pé e me contorcia de dor após a peregrinação pelas clínicas - eu não poderia trazer o contrato atualizado depois.

"Não"

Ela folheou meu passaporte e topou com o carimbo da imigração.

"Aí mostra que posso ficar na Inglaterra por seis meses"

"Não basta"

Lembrei então do documento que tinha pego na saída de casa. Era uma carta do banco, nos agradecendo pela escolha do Barclays como nossa instituição financeira, falando serviços disponíveis e tal. Pensei: deve servir como comprovante. Lá estava, num papel com o selo do banco e com data de alguns dias atrás, meu nome e endereço.

"Desculpe, não posso aceitá-lo"

"Posso perguntar o motivo? O documento tem data, meu nome e meu endereço"

"Só podemos aceitar extratos bancários"

"Mas eu acabei de abrir a conta. Ainda não recebi o extrato mensal"

"Sinto muito"

"Mas aí consta o meu endereço e o meu nome"

"Sinto muito. A senhora terá que voltar outra hora"

"Mas eu estou morrendo de dor e mal consigo andar, preciso ser atendida por um médico"

"Sinto muito"

Eu só me lembrava, nessa hora, da Carol e do Gus, que sofrem com o sistema público de saúde do Canadá - onde, infelizmente, as coisas são bem, bem piores do que em Londres (http://carolgustoronto.blogspot.com/2008/06/canad-sade-e-imigrao.html). E me deu uma saudade enorme de Pittsburgh...

domingo, 22 de junho de 2008

Verão em Londres

Para quem nasceu e foi criado no Rio, verão é sinônimo de sol, praia e cerveja. Para esta carioca bem mais ou menos, apenas sol já está bom. Pena que o astro rei ainda é coisa rara aqui por essas bandas. Desde que chegamos a Londres, há mais ou menos um mês, posso contar nos dedos os dias de sol. E não é só maneira de falar. Antes fosse.

Hoje, no entanto, foi um dia que fez juz ao verão carioca: sol a pino, gente com pouca roupa (europeu adora uma desculpa para botar as pernas brancas e tudo mais que as acompanha de fora) pipocando sobre a areia - ops, digo, gramado... E, como não poderia deixar de ser, a versão londrina do bom e velho farofeiro brasileiro.

O que tinha de gente nos parques com toalhinha estendida ao vento e comes e bebes ao ar livre não era de brincadeira. Tudo na maior classe, claro. E, como sol é artigo de luxo em Londres, o que mais se via era gente na rua, apinhando os parques da rainha. Tinha até um maluco que topou posar, todo orgulhoso, com a sua melancia, veja só:

Pena que alegria de pobre dura pouco. Nos poucos dias de sol que vimos por aqui, uma chuvinha chata também bateu ponto. O que me enlouquece aqui em Londres é a falta de previsibilidade do tempo. A gente vê o povo carregando guarda-chuva de um lado para o outro e só depois de passar um tempo aqui entende o motivo: esse tempo maluco.

Como um amigo brasileiro que mora por aqui bem definiu, você tem as quatro estações do tempo num mesmo dia, em questão de horas. Não sei se eu ia gostar de viver num lugar assim. De doida, aqui em casa, basta eu.

Mas, enquanto estamos por aqui, o negócio é aproveitar. Mesmo debaixo de chuva. Meu programa preferido, claro (e não apenas, mas especialmente nos dias cinzentos), não poderia deixar de ser ir aos museus. E a cidade é um parque de diversões para quem, como eu, é rata de museu. O melhor de tudo: de graça. São raros os que cobram entrada. Isso faz a viagem bem mais interessante. A gente dá uma escapada de meia hora aqui, outra de duas horas ali e, quand vê, já percorreu todo o acervo. Assim, sem pressa, aproveitando com tudo que tem direito.

E estamos muito bem localizados. Morando em South Kensington - um bairro muito posh, como diz o povo aqui - temos grandes três museus vizinhos de casa. O Victoria & Albert (http://www.vam.ac.uk/), o Museu de História Natural (http://www.nhm.ac.uk/) e o Museu de Ciência (http://www.sciencemuseum.org.uk/). Um fica quase de frente para o outro.

Não pude deixar de sorrir quando vi o enorme fóssil de dinossauro que saúda quem entra o Museu de História Natural. É uma réplica de um dos fósseis do Carnegie Museum of Natural History (http://www.carnegiemnh.org/). Embora o museu londrino seja muito incensado, quem é fã de dinos, como eu, vai à loucura no museu de Pittsburgh, que tem uma das maiores coleções de fósseis de dinossauros do mundo. O de lá deixa o daqui no chinelo. Vale conferir.

Nas minhas andanças por Londres, elegi o British Museum (http://www.britishmuseum.org/) e a National Gallery (http://www.nga.gov/) como meus favoritos. Valem mil visitas, todas feita com calma, apreciando cada detalhe das coleções. E, como chove para diabo nesse verão para gringo ver, o que mais tenho feito é bater ponto nos museus da cidade. Minha sede de cultura agradece.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

The Sun

Só para entender melhor: o tabloide The Sun é apenas o maior jornal de língua inglesa em circulação no mundo, com mais de três milhões de cópias diárias. E boa parte dos leitores pertence às classes A, B e C. A pérola do jornal é a página 3, que tem sempre meninas novas - na faixa dos 18 a 20 anos - posando com os seios de fora. Bizarro.

Celebridades e a realeza britânica são alvos certos do jornal. Foi o Sun que estampou a foto do príncipe Harry usando uma suástica no braço e, recentemente, publicou fotos nada atrativas (http://www.thesun.co.uk/sol/homepage/news/royals/article1102132.ece) da princesa Beatrice, filha do príncipe Andrew e quinta na linha de sucessão.

Também é do Sun a manchete "Da juventude nazista a Papa Ratzi", sobre a escolha do alemão Joseph Ratzinger como novo papa, um claro jogo de palavras com a palavra nazi (nazista).

Tabloides: mania nacional

A gente sempre ouve falar dos tabloides (leia-se, jornais sensacionalistas) que habitam a terra da rainha Elizabeth II, mas é preciso ver para crer. Eles são de fato uma mania, um vício popular. Na vinda para Londres, no quentão (como minha mãe chama, carinhosamente, a classe econômica), não pude deixar de olhar com certa inveja a vida boa na classe executiva. Pior é que, já tendo viajado de primeira e de executiva - ah, tempos bons aqueles, em que não levava a vida como mulher de estudante! - sabia exatamente o que eu estava perdendo... Mas, isso não vem ao caso agora. A questão é que, enquanto eu cobiçava um assento mais digno e espaçoso, não pude deixar de notar duas figuras muito requintadas, "gente bacana" (tradução: montada na grana), como diria meu amigo Vicente. Nas mãos dessa galera grã-fina, veja só, lá estava um belo exemplar do mais perfeito tabloide blitânico, com suas manchetes sensacionalistas. Na capa tinha uma atriz flagrada nua e um escândalo estapafúrdio qualquer sobre uma celebridade. Aterrisando em solo londrino, vi que esse tal de tabloide é mesmo uma praga. Todo mundo lê, sem medo de ser feliz. Basta dar uma volta por bairros mais chiques, como South Kensington ou Chelsea para ver a nata londrina folheando o The Sun, Daily Mirror ou Daily Star. E no Brasil ainda tem gente que tem vergonha de ler Caras!

Próxima parada: Londres

Esse blog, infelizmente, foi sem nunca ter sido...

A intenção era fazer um relato das aventuras "pittsburguesas", mas por motivo de força maior (digo, menor - leia-se, um bebê em casa), as atualizações ficaram bem a desejar. Mas, para compensar, antes da volta ao Brugo de Pitt, fizemos uma parada estratégica em Londres, só para dar uma arejada e tentar injetar nova vida a este blog. Se der tudo certo (e a dona miudinha assim permitir), desta vez vai!